28 jan 2022

Tecnologia UV-C e qualidade do ar interior é tema de trabalho premiado

O risco de propagação do novo Coronavírus pelo ar que trouxe de volta à tona a tecnologia UV-C, já conhecida pela comunidade científica pela sua função germicida. Trata-se de lâmpadas ultravioletas que emitem ondas na faixa de radiação C, também chamadas de lâmpadas germicidas ou lâmpadas azuis. Com uso já consolidado em ambientes públicos dos Estados Unidos e alguns países da Europa para a descontaminação de superfícies, equipamentos de proteção pessoal e purificação de ar, elas passaram por novos testes que reafirmaram sua função germicida contra vírus, fungos e bactérias. Esse foi o tema do trabalho técnico apresentado pelo diretor-executivo da Engepred, Alex Ferreira Gonçalves, no 36° Congresso Brasileiro de Manutenção e Gestão de Ativos, promovido pela Associação Brasileira de Manutenção e Gestão de Ativos (ABRAMAN), que foi premiado com o segundo lugar no evento. 

Após apresentação do estudo, o trabalho “Manutenção preventiva: radiação UV-C e qualidade de ar interior” ficou disponível na seção “pôster” (clique aqui para ver), onde o público também pôde conferir o case “Retrofit: modernização do sistema de refrigeração de um edifício em pleno funcionamento“, apresentado pela gerente de operações da Engepred, Elisabete Afonso Monegalha. 

 

Tecnologia UV-C, velha conhecida, novas comprovações de eficácia 

Segundo Gonçalves, que também é professor de facilities, a iluminação ultravioleta já era utilizada para fins germicidas, desde 1910, quando em Marselha, na França, foi instalado o primeiro sistema do tipo para tratamento da água potável captada do rio Durance, mas ganhou novo destaque diante do maior foco em manter as edificações seguras para as pessoas. Para reafirmar a capacidade germicida da irradiação UV-C nos sistemas de climatização, Gonçalves esteve à frente de um projeto para uso da tecnologia em dutos e serpentinas de sistemas de ar-condicionado e em equipamentos do tipo split, que contemplou dois testes com análises realizadas por um laboratório independente. 

Uma análise comparativa mostrou a redução de 99,99% de bactérias heterotróficas e de 99,50% de fungos viáveis no equipamento de ar-condicionado de um shopping center de São Paulo com a lâmpada instalada, em comparação a um equipamento sem a lâmpada, em um período de 30 dias. O resultado foi ainda confirmado por um segundo teste, realizado em um equipamento de outra edificação, localizada no Rio de Janeiro, que manteve a média de redução comparativa: 99,99% no caso de bactérias heterotróficas e 99,95% no caso de fungos viáveis. “Devido à necessidade de níveis elevados de biossegurança, os testes foram realizados em fungos e bactérias, já que um posicionamento conservador é adotar a premissa de que bacteriófagos são mais resistentes do que vírus patogênicos, como os da família dos Coronavírus (Covs)”, explica Gonçalves. 

 

Tecnologia UV-C aumenta prevenção à disseminação do SARS-CoV-2 

No relatório elaborado pelo Comitê de Fotobiologia do Illuminating Engineering Society (IES), com o objetivo de fornecer informações sobre a irradiação ultravioleta como meio de desinfecção do ar e de superfícies, a entidade norteamericana afirma a eficácia da iluminação UV quando em contato direto com o vírus SARS-CoV-2 (causador da Covid-19), na dose recomendada, juntamente a outros métodos de desinfecção. “A energia radiante da iluminação ultravioleta danifica os ácidos nucléicos (DNA e RNA), causando mutações que impedem a replicação, causando a morte de praticamente todas as bactérias e inativação de todos os vírus dos tipos DNA e RNA”, diz o documento.  

Em seu artigo, Gonçalves explica que o Sars-CoV-2 é um vírus RNA, tais como o SARS-CoV-1, Ebola, Hepatite A, Influenza e Rubéola, com redundância genética (RNA de fita dupla). Segundo ele, com base nos estudos e dados disponíveis, pode-se assumir com segurança que para uma inativação viral de 99,9%, a dose de irradiação UV-C deve ser maior que 20 mJ/cm2.  

 

Adoção da tecnologia UV-C é indicada para prevenção de outras doenças 

Os estudos e posicionamento sobre a importância da radiação UV-C para a qualidade do ar interior são corroborados pelo Center for Disease Control and Prevention (CDC), que incentiva a utilização da tecnologia nos equipamentos de ar-condicionado em conjunto com a ventilação mecânica para evitar a disseminação de tuberculose.  

A Environmental Protection Agency (EPA) e a Agência Federal Americana de Gerenciamento de Emergências, por sua vez, indicam a tecnologia UV-C para proteção contra o bioterrorismo. O diretor de operações da Engepred, no entanto, alerta que “a iluminação UV-C deve ser adotada em conjunto com um rigoroso plano de manutenção, que garanta desde a definição do tipo adequado do elemento filtrante e sua frequência de troca até à taxa de renovação do ar interior”. Mas o uso deve ser feito com cautela, pois “as lâmpadas com irradiação ultravioleta podem ser nocivas à saúde humana quando utilizadas de forma errada”. Segundo ele, “não existe milagre, mas sim uma série de cuidados que os profissionais da área de manutenção, gestão de ativos e até gestão de pessoas precisam estar atentos para a tomada adequada de decisão”. 

O reconhecimento do trabalho em um evento técnico é um indício de que os profissionais estão no caminho certo. Se a pandemia vai deixar muitos legados, mudanças e aprendizados, na gestão de prédios comerciais e corporativos a importância da qualidade do ar interior com certeza será uma delas. 

 

O 36° Congresso Brasileiro de Manutenção e Gestão de Ativos  

Com o tema “Sustentabilidade, liderança e resultados na manutenção e gestão de ativos”, o Congresso Brasileiro de Manutenção e Gestão de Ativos, realizado pela ABRAMAN reuniu diversos cases, estudos, palestras e trabalhos técnicos. Maior evento do setor na América Latina, ele foi realizado pela secunda vez totalmente online, reunindo profissionais de todo País.